Por Ronuery Rodrigues
Raphael Melo, de 20 anos, é o primeiro atleta trans da região do Cariri a disputar um Campeonato Internacional de jiu jitsu. Ele conquistou o 3º lugar no Fortaleza Open 2022 de Jiu Jitsu e se destaca por quebrar barreiras em relação à transfobia.
Antes da luta começar, Raphael teve que explicar porque iria competir com roupa por baixo do Kimono, o que não é permitido pelas regras do esporte. O jovem ainda não passou por cirurgia de mastectomia.“Eu expliquei aos árbitros que sou homem trans e eles entenderam", conta o atleta.
Ao término da luta, o atleta conquistou o 3º lugar na disputa, para o orgulho dele próprio e de seu treinador. “ Eu me senti bem. Foi uma vitória para mim. Primeira vez que lutei na categoria masculina, meu primeiro campeonato”, afirmou.
Mas a vitória maior foi o retorno dele nas competições, já que teve a vida social abalada durante o processo de transição. Uma trajetória marcada por momentos difíceis e de superação.
TRAJETÓRIA
Raphael Melo é cratense e apaixonado por esportes. Passou pelo karatê, judô, natação e futsal, mas se encontrou no Jiu jitsu, modalidade que começou a treinar aos 12 anos. Integrou a equipe Kimura e lutou em dois mundiais na categoria feminina.Raphinha também já venceu 4 campeonatos regionais e 1 internacional.
No momento em que Raphael estava ascendendo no esporte, começou a pensar em sua identidade. A transição de gênero abalou o seu psicológico. Parou de treinar, perdeu alguns patrocínios e sentiu na pele o preconceito de familiares e amigos, “Quando eu fui me apresentando como Raphael, o pessoal foi se afastando”, lembra.
Isolado no quarto e longe dos treinos, a transição foi um momento difícil. A mãe de Raphael afirmou que contou com o suporte de algumas pessoas para superar a barra, “Mesmo depois que ele abandonou os treinos, têm um ciclo de parceiros que nunca o abandonou. Essas pessoas que continuam apoiando Rapha, viram que a essência de Rapha não mudou nada. O que muda é o corpo”, aponta Gracy. Ela lembra também que teve apoio da escola que o jovem estudava," Ele quase não termina os estudos, mas a escola foi compreensiva", diz.
Passada a fase mais delicada da transição após quase três anos longe dos treinos. Raphael voltou a fazer o que gosta. Treina semanalmente com o Sensei Roger Costa e novas parcerias estão chegando. No próximo mês vai competir em Barbalha. Com os olhos brilhando de emoção, o atleta afirma que o jiu jitsu é o único esporte que se sente bem e encoraja as pessoas transgênero a lutarem contra o preconceito.
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