Conheça a história do Seminário da Sagrada Família, Padres Alemães, Hospital Manuel de Abreu e o futuro Centro Cultural do Cariri

Fotografia: Acervo Gov. do Ceará| Reprodução.

Por: Adeildo de Sousa

O prédio que futuramente irá sediar o Centro Cultural do Cariri de Crato (CCC), anteriormente abrigou um seminário católico alemão (1948 a 1971) e posteriormente um hospital (1973 a 2014).

O edifício desenhado por arquitetos alemães iniciou suas construções em meados da década de 40. A localidade escolhida para erguer o seminário (em terreno doado pelo então bispo Dom Francisco de Assis Pires) era denominada de Sítio Recreio, atual Avenida JPB de Menezes, próxima a Asa.

O local foi edificado para ser a sede de um educandário religioso que seria coordenado por sacerdotes seculares alemães, pertencentes à congregação dos Missionários da Sagrada Família (MSF). A congregação foi fundada na cidade de Grave na Holanda, pelo Padre francês Jean Berthier, em 1895.

Estes religiosos vindos da Alemanha chegaram ao Crato no início dos anos 40 e tinham como premissa, preparar os jovens estudantes locais nos campos religioso, social e científico, para utilização em sua futura vida missionária.

As obras do Seminário Apostólico da Sagrada Família iniciadas em Março de 1946, demoraram quase dois anos e meio para ficarem prontas. De acordo com relatos de parentes de operários que atuaram na construção, boa parte da edificação foi marcada por diversos acidentes, que resultaram em alguns óbitos, a exemplo das instalações dos forros da capela central e durante a construção da torre local.

A capela provisória do prédio foi inaugurada em 14 de Julho de 1947.  A inauguração do seminário deu-se em 07 de Julho de 1948, ocasião na qual ocorreu missa campal presidida pelo bispo diocesano Dom Francisco de Assis Pires - 2º bispo do Crato, que ao final da solenidade, benzeu o majestoso prédio de imponente arquitetura alemã.

 A Sagrada Família era composta por padres “operários” das mais diversas profissões. Essa característica da ordem visava que os padres com seus conhecimentos, pudessem em suas missões, ajudar de alguma forma na sobrevivência das populações para onde quer que fossem mandados.

O seminário Sagrada Família do Crato destacava-se pelo excelente trabalho de formação religiosa, aliado a oficinas de trabalho que eram dotadas de padarias, hortaliças e pomares. Possuía vasta biblioteca dotada de diversos temas. Sua capela era uma das mais belas e procuradas da cidade, para a realização de eventos diversos.

Os principais sacerdotes da Sagrada Família em Crato foram os padres Xavier e Frederico Nierhoof, religiosos bastante queridos e integrados ao cotidiano social da cidade.

Durante o período em que estiveram presentes no Crato, os padres alemães realizaram uma infinidade de melhoramentos na cidade, como a construção de igrejas, escolas, núcleos habitacionais, creches e postos de saúde, tanto na cidade, quanto na zona rural do município. 

Conseguiram formar inúmeros profissionais e deixar uma grande contribuição sócio-religiosa e um enorme legado, que perdura até a atualidade.

No entanto, havia quem não gostasse da presença dos padres alemães em Crato. Estes chegaram a sofrer acusações infundadas de serem nazistas infiltrados no Brasil e ao mesmo tempo, de compactuarem com militantes comunistas que lutavam contra o Regime Militar de 1964, recém-instaurado naquela ocasião. 

Outros boatos fazem menção ao detalhe da arquitetura predial em formato de "H" que até hoje, dizem de ser uma homenagem ao ditador alemão Adolf Hitler. Nada comprovado.

Depois de 23 anos de intensa atividade local e após sofrer uma série de desgastes, a ordem suspendeu o funcionamento do seu educandário religioso e retirou-se do Crato, em 12 de Janeiro de 1971.  

No final de 1971, o antigo prédio alemão é arrendado pelo médico e ex-prefeito do Crato Humberto Macário de Brito e convertido no Hospital Regional Manuel de Abreu, inaugurado em 17 de Fevereiro de 1973, especializado no tratamento da tisiologia. 

A denominação do hospital fazia alusão ao médico Manoel Dias de Abreu, criador da Abreugrafia, método de detecção e tratamento da tuberculose, por meio de um diagnóstico radiográfico. 

A unidade hospitalar possuía sistema de comunicação interno e externo, lavanderia mecanizada, câmara de esterilização, serviço de radiografia e radioscopia, farmácia, ambulatório e moderno centro cirúrgico. Nos anos seguintes, foram incorporados os serviços de maternidade e odontologia.

O hospital funcionou no município cratense durante 41 anos (até Agosto de 2014), quando foi definitivamente fechado devido a inúmeros problemas financeiros, que passaram a inviabilizar sua continuidade.

Em 2017, o prédio que abrigou o seminário e hospital foi tombado pelo município. No final do mesmo ano, o local foi comprado pelo governo do estado para a construção de um centro cultural regional, a ser sediado em Crato. 

Em 05 de Novembro de 2020 (Dia da Cultura), o governador Camilo Santana assinou a ordem de serviço para a construção do Centro Cultural do Cariri (CCC). Além da restauração do edifício, o projeto também terá a construção de blocos anexos que irão abrigar salas de exposição, teatro, planetário, museus, quadra, areninha, estacionamentos e espaço para cursos e formações diversas, nos mesmos moldes do Centro Dragão do Mar de Fortaleza. 

Na atualidade, as obras já estão com 15% de execução. O equipamento cultural tem previsão de ser entregue no segundo semestre de 2022.

Adeildo de Sousa – Historiador e Pesquisador – Administrador da Página Crato de Ontem


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